
Nem todas as pedras preciosas contam histórias. Mas algumas, como o Marie-Thérèse Pink, carregam mais do que brilho e raridade — são fragmentos de um tempo em que a joalheria era instrumento de poder, vaidade e legado. Com 10,38 quilates e uma coloração rosa-púrpura intensa, o diamante que teria pertencido à rainha Maria Antonieta, uma das figuras mais icônicas (e controversas) da monarquia francesa, foi arrematado por impressionantes US$ 13,98 milhões — cerca de R$ 71 milhões — durante o leilão Magnificent Jewels, promovido pela Christie’s.
A venda, realizada em Genebra, superou com folga a estimativa inicial de US$ 7 milhões e estabeleceu um novo recorde mundial para uma joia dessa coloração. A peça, agora montada em um anel assinado por JAR — o renomado joalheiro americano Joel Arthur Rosenthal, radicado em Paris —, também se tornou a criação mais valiosa já leiloada da carreira do artista, conhecido por sua produção exclusiva, artesanal e altamente disputada por colecionadores.
O diamante, batizado de Marie-Thérèse Pink, carrega em seu nome outra referência à realeza: Maria Teresa da Áustria, mãe de Maria Antonieta. Embora não haja documentação conclusiva que comprove a origem da pedra, especialistas da Christie’s destacam sua lapidação antiga e tonalidade rara, características compatíveis com as joias do século XVIII. Em tempos em que gemas coloridas ganham cada vez mais prestígio — superando inclusive os diamantes incolores em alguns rankings —, o fator histórico e o mistério em torno da peça pesaram tanto quanto seu valor de mercado.
Joias com origem real sempre despertaram fascínio. Mas no caso de Maria Antonieta, o interesse ultrapassa o luxo: ela foi, e continua sendo, símbolo de um estilo de vida decadente, de uma estética barroca levada ao extremo e, paradoxalmente, de uma mulher jovem colocada como alvo do ódio popular numa França pré-revolucionária. Seu acervo pessoal de joias já protagonizou diversos leilões milionários, quase sempre envolvendo peças desaparecidas por séculos e reencontradas em cofres de famílias aristocráticas europeias.
A venda do Marie-Thérèse Pink reafirma uma tendência no universo da alta joalheria: o resgate de narrativas. Em um tempo em que o valor simbólico importa tanto quanto o material, peças com alma, história e passado continuam sendo as mais desejadas — e as que ultrapassam qualquer previsão de lance.